"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 30 de junho de 2012

António José Osório de Pina Leitão e a Tipografia de Manuel António da Silva Serva



Estes apontamentos vêm a propósito de um livro – Alfonsiada. Poema heroico da fundação da Monarquia Portugueza pelo Senhor Rey D. Alfonso Henriques. Bahia, Typ. de Manuel António da Silva Serva, 1818, in 4º de 278 páginas. – que me interessou num dos muitos leilões já realizados em Portugal este ano.

O meu interesse no livro não era tanto nem pelo seu autor – António josé Osório de Pina Leitão – nem pela alta qualidade literária da obra (opiniões divergentes mas que na sua maioria lhe reconhecem um limitado interesse literário), mas sim na casa impressora do mesmo – Tipografia de Manuel António da Silva Serva.

Apesar de a estimativa máxima perspectivada pelo livreiro-antiquário ser relativamente baixa, decidi licitar por um valor bastante acima da mesma, mas mesmo assim, ao “soar do martelo o livro foi para outras mãos!”.



...ao soar do martelo!

Fruto das minhas pesquisas, que partilho parte convosco, cheguei à conclusão que a estimativa era pouco coincidente com a realidade do mercado, mas sobretudo que os meus conhecimentos eram bastante limitados neste assunto (assim como em muitos outros…), pelo que entendo que o livro foi vendido por um preço que se pode considerar aceitável.

Vem isto a propósito de devermos tentar estar informados do valor de venda em leilões, pelo menos das mais recentes, e mesmo noutros livreiros-antiquários, de uma qualquer obra que nos interesse, para podermos fazer uma “licitação correcta” sobre o mesmo.


Southebey's Book Auction 1888

Quando falo em “licitação correcta” pressuponho um preço que esteja dentro dos valores praticados e sempre em consonância com o estado da mesma, pois que em leilões o valor de uma determinada obra pode disparar para “valores inabituais” (e digamos lisonjeiramente assim) para o que basta haver dois grandes interessados/”teimosos” na sala em disputa.

Mas também este é um dos aspectos que nos podem fascinar num leilão – até onde nos pode conduzir uma velha paixão por um livro que tanto procurámos e que finalmente está mesmo ali ao nosso alcance!

Toda a cautela é pouca se não corremos o risco de entrar em “pequenas/grandes loucuras”!

Vejamos então quem foi António José Osório de Pina Leitão.


António José Osório de Pina Leitão

António José Osório de Pina Leitão nasceu no Manigoto (suburbios de Pinhel) a 12 de Março de 1762.

Segundo o Diccionario Bibliographico Brazileiro Vol. 1, 1883, pp. 218-219, faleceu "no Rio de Janeiro, sendo brasileiro adoptivo, a 24 de Março de 1825", portanto com 63 anos.

No entanto, segundo outras fontes, caso de Inocêncio Francisco da Silva no seu Dicionário Bibliográfico Português, terá morrido depois de 1840.


Diccionario bibliographico brazileiro
pelo doutor Augusto Victorino Alves Sacramento Blake

Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, de Outubro de 1781 a Outubro de 1785, onde conseguiu o grau de Bacharel em Canones. Após mais um ano de frequência desta Faculdade, obteve a sua Formatura em Canones em 5 de Julho de 1786.

Seguiu a carreira da magistratura onde exerceu vários cargos. Foi Juíz de Fora de Alfândega da Fé.

(Não consegui apurar a data exacta da sua partida para o Brasil).

Aqui prosseguiu a sua carreia na magistratura onde desempenhou igualmente altos cargos.

Sobre estes convirá descrever um pouco da sua história.

Olinda, sede histórica dos primeiros colonizadores, reclamava de longas datas o seu próprio tribunal. Incendiada durante a ocupação holandesa, perdera para o Recife boa parte do seu poderio comercial, mas continuava a disputar com aquela cidade o predomínio na capitania, primando por ser a mais aristocrática cidade do nordeste.

Mas a imagem de Pernambuco não era das melhores. Junto à sua intensa atividade comercial fervilhava um forte movimento independentista que, já em 1817, protagonizara uma revolução parcialmente bem sucedida e que, por pouco mais de dois meses, chegara a controlar os destinos da capitania.


Domingos José Martins (1781-1817) (1)

Este movimento republicano foi chefiado por Domingos José Martins. Nasceu no sítio Caxangá, nas proximidades de Itapemirim, hoje município de Marataízes, no estado do Espírito Santo, e foi fuzilado em Salvador, Bahia, em 12 de junho de 1817. A Revolução Pernambucana de 1817 visava proclamar a independência do Brasil, ainda sob o jugo de Portugal, e implantar o regime democrático.

Embora a devassa tivesse sido suspensa em 1818, por uma especial demonstração de clemência de D. João VI na hora da sua coroação, ninguém ignorava que ainda muitos revolucionários moravam em Olinda e Recife.

No entanto, em 1821, o rei autorizou a criação do tribunal, fundamentando sua decisão nas "dificuldades que experimentavam os habitantes da Província de Pernambuco, de recorrerem à Relação da Bahia para o prosseguimento das suas causas, pela grande distância de huma e outra Província, avultadas despesas, separação de suas famílias, interrupção dos trabalhos de que tirão a sua subsistência, e outros muitos inconvenientes". Conforme a fundamentação, esses empecilhos seriam demasiadamente sérios, mesmo sendo os processos "entregues a procuradores", o que teria "induzido a muitos a deixarem sem última decisão os seus pleitos, preferindo antes perdel-os do que sujeitarem-se a tão graves incommodos".


D. João VI

Traindo, de certa maneira, a solicitação de Olinda, o rei resolveu estabelecer a sede da nova Relação na cidade do Recife, mais importante e dinâmica do ponto de vista administrativo e comercial.

Desta vez, D. João VI não perdeu tempo em mandar redigir novo regimento. Estava ainda recente o que fora outorgado ao tribunal de São Luís. O Alvará de criação limitou-se a dar à Relação do Recife "a mesma graduação e alçada que tem a do Maranhão", indicando que "será presidida pelo Governador e Capitão General que atualmente o he e for para o futuro da Província de Pernambuco, e será composta do Chanceler e do mesmo número de Desembargadores e Oficiais que tem a referida Relaçãoo do Maranhão".






Alvará de 6 de Fevereiro de 1821

O Alvará acrescentava, ainda, que "O seu Presidente, Ministros e Officiaes vencerão os mesmos ordenados, ajudas de custo, propinas, assignaturas e emolumentos concedidos ao Governador, Ministros e Officiaes da Relaçãoo do Maranhão, servindo-lhe de Regimento o mesmo que pelo Alvará de 13 de Maio de 1812 fui servido dar à Relação do Maranhão, menos quanto aos recursos, que os deverá dar para a Casa da Suplicação do Brasil". Percebe-se, assim, que apesar de o rei e a Corte residirem no Brasil desde 1808, o tribunal maranhense continuava a dar recurso à Casa da Suplicação de Lisboa.


Casa de Suplicação de Lisboa (séc. XVII)

Ainda em 6 de Fevereiro de 1821 foram designados os primeiros membros do novo tribunal: António José Osório Pina Leitão, Eusébio de Queiroz Matoso, Bernardo José da Gama, João Pereira Sarmento Pimentel e João Evangelista Faria Lobato, todos eles na qualidade de Desembargadores dos Agravos. Eusébio de Queiroz Matoso acumulava o cargo de Procurador da Coroa, João Pereira Sarmento Pimentel, o de Ouvidor do Crime e João Evangelista Faria Lobato, o de Ouvidor do Cível.


Eusébio de Queiroz Matoso

Aderindo à Revolução portuguesa, à revelia do governo de Rego Barreto, os liberais instalaram uma Junta de Governo, em Goiana, ao que Barreto respondeu com a formação de outra junta, por ele presidida, na cidade do Recife.

Enquanto isso, os desembargadores designados para o novo tribunal aguardavam pela instalação. D. João VI já tinha retornado a Lisboa; D. Pedro tinha demasiadas preocupações para se lembrar do projecto.


D. Pedro IV, rei de Portugal
D.Pedro I, imperador do Brasil
[D. Pedro, Duque de Bragança] [Visual gráfico / Primavera, 1833.
[S.l. : s.n., 1833] ([Lisboa]: O.R.L.. - 1 gravura : litografia, p&b

Finalmente, depois de muita insistência, D. Pedro autorizou a instalação, que foi efectivada em 13 de Agosto de 1822, faltando menos de um mês para a declaração da Independência. No dia anterior, o desembargador António José Osório Pina Leitão prestara juramento como Chanceler interino, em substituição do titular, Lucas Monteiro de Barros, futuro Visconde de Congonhas do Campo. Embora esse juramento devesse ser prestado perante o Chanceler Mor do Reino, a pressa por acelerar a instalação definitiva e o carácter de interino fizeram com que esse compromisso fosse formalizado ali mesmo, perante a Junta de Governo de Pernambuco.

Já no dia 13 aconteceu a instalação do tribunal, tomando como sede provisória o antigo Erário Régio. Salas e mobília eram improvisadas, o quadro de servidores estava incompleto e não existia ainda o oratório onde, regimentalmente, todos os dias os desembargadores ouviriam missa antes de entrar em sessão, isso tudo evidenciando, ainda mais, a pressa por consolidar o tribunal antes que qualquer nova eventualidade viesse adiar mais uma vez o seu funcionamento efetivo.


Lucas António Monteiro de Barros,
o Visconde de Congonhas do Campo (1767-1782)

Ouvida a missa e tomado o juramento aos demais desembargadores, a Relação começou logo a funcionar, resolvendo "que fossem os dias terças-feiras e sábados de todas as semanas os destinados para as secções deste Tribunal, assim como o eram na Relação da Bahia, e na Casa da Suplicação do Rio de Janeiro". Entretanto "como no dia de sábado faz também secções a Junta da Fazenda Nacional de que também é Deputado o Procurador da Coroa e Fazenda", optaram por "oficiar a referida Junta para que haja de substituir com outro o dia de sábado; no que não pode sofrer inconveniente em ordem a que não sofra o respectivo expediente destas importantes secções".

Com a declaração de Independência do Brasil e António José Osorio de Pina Leitão ficou ao serviço do Império, pelo que seria considerado como brasileiro.

Ainda segundo o Diccionario Bibliographico Brazileiro Vol. 1, 1883, pp. 218-219: "foi um delicado cultor da litteratura, sobre tudo da poetica".


Bibliografia:



PINA LEITÃO, António José Osório de Pina – Elegia composta sobre a funesta morte do Príncipe do Brasil D. José. Lisboa, Off. de António Gomes, 1788, in 4º de 15 páginas. (2)



É uma composição em versos soltos, publicada com o nome António José Osório.


©Livraria Castro e Silva

©Livraria Castro e Silva

PINA LEITÃO, António José Osório de Pina – Tradução Livre ou Imitação das Geórgicas de Virgílio em verso solto, E outras mais Composições Poeticas. Offerecidas Ao Illmo, e Exmo. Senhor JOSE’ DE SEABRA DA SILVA, Ministro Secretario de Estado dos Negocios do Reino. &c. &c. &c. por ANTONIO JOSE’ OZORIO DE PINA Leitão. Juiz de Fóra d’Alfandega da Fé. LISBOA: Na Typografia Nunesiana. Anno 1794. In 8º (de 17x11 cm) com 256- (VII) pags.

Contem a tradução das Geórgicas em versos soltos, seguindo-se oito odes e vinte e oito sonetos originais do tradutor.


©Livraria Castro e Silva

Encadernação da época inteira de pele com ferros a ouro na lombada.

Esta obra foi bastante bem acolhida.

A Academia Real das Ciências de Lisboa premiou em sessão pública de 12 de Maio de 1790 o livro II, que o tradutor lhe apresentara.

Bocage qualificou de boa esta versão numa das notas que terminam a que ele fez do livro I das Metamorfoses de Ovidio, porém este testemunho não obstou a que José Maria da Costa e Silva, tratando da mesma versão na Revista Universal Lisbonense, tomo VI pag. 425, a considerasse como “obra de medíocre merecimento”.

Este livro teve uma segunda edição, Lisboa, 1804.





PINA LEITÃO, António José Osório de Pina – Alfonsiada. Poema heroico da fundação da Monarquia Portugueza pelo Senhor Rey D. Alfonso Henriques. Bahia, Typ. de Manuel António da Silva Serva, 1818, in 4º de 278 páginas. Este livro é ilustrado com os retratos de D. Afonso Henriques, de D. João VI e do autor, assinados por A. do Carmo, como artista, e gravados por J.J. de Souza (Joaquim Inácio Ferreira de Sousa). (3)

J. J. Ferreira de Sousa é conhecido por ter trabalhado na Casa Tipográfica do Arco do Cego e na Impressão Regia de Lisboa na primeira década do século XIX. Em 1816 executou as gravuras incluídas na Colecção de retratos de homens que adquiriram nome, publicada no Rio de Janeiro.


Assinaturas do artista e gravador

O poema compõe-se de doze cantos em oitava rima.





Foi elogiado por Ferdinand Denis no seu Résumé de l’Histoire Litteraire du Portugal, p. 487 (“este poema oferece alguns episódios notáveis”). "Comtudo parece-me que poucos leitores terão tido a paciencia necessaria para o levarem ao fim", segundo o Diccionario Bibliographico Brasileiro.

Como apontamento de curiosidade refira-se a cronologia dos principais eventos históricos e publicações literárias, ocorridos no Brasil, na segunda metade do século XVIII até o primeiro quartel do XIX, período conhecido como Arcadismo, referente ao ano de 1818, no qual se publicou a Alfonsíada:

- Biblioteca do arquiteto Zé da Costa e Silva comprada pelo governo português e incorporada à Biblioteca Real (Rio de Janeiro)
- O governo real baixa alvará com força de lei contra instituições maçônicas
- Coleridge: On poesy (sic) or art
- Pe. Feijó: Cadernos de Filosofia (até 1821)
- Walter Scott: Ivanhoé
- Schopenhauer: O mundo como vontade e como representação
- Byron: D. Juan
- Francisco de Melo Franco: O Reino da Estupidez
- Diogo Duarte e Silva: Elogio de D. João VI
- Bernardo Avelino Ferreira de Sousa: Elogio Dramático e Ode a Paulo Fernandes Viana (Chefe de Polícia)
- António José Osório de Pina Leitão: Alfonsíada (poema heróico em doze cantos, Bahia)

Publicou ainda:

PINA LEITÃO, António José Osório de Pina – Ode pindarica ao Ell.mo e Ex.mo sr. Conde dos Arcos" in Relação do festim que ao Ill.mo e Ex.mo sr. Conde dos Arcos... deram os subscritores da Praça do Commercio. Bahia, Typ. de Manuel António da Silva Serva, 1817, in 4º de 64 páginas.

PINA LEITÃO, António José Osório de Pina – Ode pindarica offerecida a Elrei o sr. D. João VI na sua gloriosa acclamação. Bahia, Typ. de Manuel António da Silva Serva, 1818, in 4º de 10 páginas.

PINA LEITÃO, António José Osório de Pina – Ode pindarica offerecida a el-rei nosso senhor dom João VI, na ocasião do fustissimo parto da princeza real, Rio de Janneiro, 1819, in 4º de 13 páginas.



Mas como disse acima, mais do que o autor, ou a obra, o meu interesse centrava-se na casa impressora – a Typographia de Manuel António da Silva Serva.


Marca da Impressora

Aqui ficam igualmente alguns apontamentos sobre esta tipografia.

Manuel António da Silva, nasceu em Cerva, (Serva à maneira de alguns documentos antigos), Vila Real de Trás-os-Montes, comerciante, e tal como muitos outros daqueles tempos, emigrou para o Brasil, nomeadamente para Salvador, Brasil, no ano de 1797. Aí começou a vender móveis cristais e livros importados da Europa.

Foi tesoureiro da irmandade da Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim, quando provavelmente criou as "medidas" do Senhor do Bomfim, mais conhecidas como "fitinha do Bonfim", cujo uso foi introduzido em 1809.

Quando o Príncipe Regente a caminho do Rio de Janeiro em 1808, onde tinha a sua Residência Real, fez uma visita inesperada a Salvador, as forças locais empenharam-se ao máximo para persuadi-lo a permanecer na cidade, embora não conseguissem o seu objectivo ficaram atentas ao desenrolar dos acontecimentos.

Observaram que um dos primeiros resultados da chegada da Corte foi a organização da Imprensa do Governo.

Perante este facto, o livreiro Manuel António da Silva Serva tenta obter a permissão para ir a Inglaterra e adquirir um prelo (máquina tipográfica de imprimir manualmente) para a Bahia.

Após uma pequena passagem por Lisboa, para contratar os artesãos necessários em 18 de Dezembro de 1810, apresentou ao governador Conde dos Arcos, D. Marcos de Noronha e Brito, que tinha sido nomeado em 30 de Outubro do mesmo ano, havia pouco tempo ainda portanto, um pedido formal de autorização para começar a imprimir.


D. Marcos de Noronha e Brito,
8º Conde dos Arcos

Não confiando muito, e como não tinha provas de que já tivesse imprimido alguma coisa decidiu partir para o Rio de Janeiro, pensando que lá poderia influenciar no resultado do seu requerimento, e ao mesmo tempo não perdeu a oportunidade de fazer alguns negócios aí durante a sua permanência.

Publicaria uma “Notícia do catálogo de livros que se achão á venda em casa de Manuel António Silva Serva, na Rua de S. Pedro nº 17 o qual o faz por hum commodo preço {…} atendendo a demorar-se muito pouco tempo nesta Côrte”.

Esta lista deve ser o catálogo mais antigo de uma livraria brasileira, com mais de setecentos itens, ordenada por títulos. Os preços mais comuns eram $480, $560, $960 por volume (devido ao facto de as moedas da época serem múltiplos de quarenta réis). Exemplos: “Curso de Matemática por Belindoso. Com estampas, 4 volumes; Constituição da Hespanha; Exame de Bombeiros. Com estampas; Compendio d’Agricultura, 5 volumes; e o mais caro, Dicionário Italiano e Portuguez, 2 volumes 16$000”.

A carta régia que instruía o governador a aprovar a sua petição foi publicada a 5 de Fevereiro de 1811, três meses depois.

Silva Serva voltou à Bahia, nos Princípios de Abril de 1811, onde começou imediatamente a trabalhar, produzindo as suas primeiras edições em 14 de Maio: um prospecto de quatro páginas para um jornal, um “Plano para o Estabelecimento de huma Biblioteca Publica na Cidade de S. Salvador” (em quatro páginas) e um impresso em onze páginas, “a Oração Gratulatoria do Príncipe Regente” de Inácio José Macedo.


Inácio José Macedo

Os projectos de um jornal e de uma biblioteca pública eram, ambos, claras tentativas de competir com o Rio de Janeiro, e os dois foram realizados pouco depois. A biblioteca, inspirada pela inauguração da Biblioteca Real Portuguesa, no Rio em 27 de Julho de 1810, deveu-se muito ao interesse do Conde dos Arcos.

O jornal - "Gazeta da Bahia - Idade d'Ouro do Brazil" -  surgiu no mesmo ano, vindo a se tornar o terceiro jornal da história do Brasil (depois do "Correio Braziliense" e da "Gazeta do Rio de Janeiro", jornal oficial da Coroa).



Idade d’Ouro do Brasil (4)

Publicado em Salvador, foi o primeiro jornal a ser impresso na então Província da Bahia. Com quatro páginas, circulou às terças e sextas-feiras, no período de 14 de maio de 1811 a 24 de junho de 1823. Foi um coadjuvante no processo de consolidação de uma cultura científica no país, publicando esporadicamente artigos ligados ao desenvolvimento científico e tecnológico.

Tinha uma linha editorial conservadora, defendendo o absolutismo monárquico português.

Em Janeiro de 1812, Silva Serva passou a publicar uma revista semanal, encartada no jornal, denominada Variedades. Tinha uma função semelhante à de um suplemento cultural dos jornais de hoje e é reconhecida como a primeira revista da história da imprensa brasileira.

Até 1821 este jornal "publicaria os atos oficiais, anúncios e notícias gratulatórias e fúnebres" (PASSOS, 1952, p. 34).

Algumas regras foram emitidas por portaria de 5 de maio de 1811 (PASSOS, 1952, p. 32-33), regulando as normas para circulação do jornal, que deveria:

Publicar "todos os Direitos Ministeriais e Econômicos; cujo conhecimento convém publicar, discorrendo sôbre o intêresse público que deflui das disposições e medidas que nêles se contem";
Anunciar "as novidades mais exatas de todo o Mundo [...]";
Contar "as notícias Políticas" de forma singela;
Descobertas úteis;
Fazer "menção dos despachos civis e militares, particularmente desta Capitania".

Para aprovar as publicações de Serva, o Governo Provincial criou uma Comissão de Censura, formada por cinco membros, dois dos quais deviam ser clérigos. Essa comissão funcionou até 1821.

Segundo Octavio Mangabeira, esta primeira editora particular do Brasil funcionaria, contudo, "sob a condição imprescindível de submeter quaisquer artigos, que houvesse de publicar, ao prévio exame de uma comissão civil ou eclesiástica" e "foi instalada por cima dos Arcos de Santa Bárbara, na Freguesia da Conceição da Praia".

A tipografia de Serva era formada, como destaca Moraes (2006, p.141), por:

Dois prelos com os tipos e apetrechos necessários;
Um mestre impressor;
Um revisor de provas;
Um encadernador - oficial encarregado de dobrar as folhas impressas de maneira a formar cadernos prontos para a costura;
Quatro serventes de prelo;
Seis aprendizes.

Ou seja, o número de empregados da oficina – o impressor chefe Marcelino José, o revisor de provas – Bento José Gonçalves Serva, seis aprendizes de composição (meninos entre 12 e 15 anos), quatro impressores e um encadernador, já com dois prelos, tornavam esta tipografia maior do que um mercado de tamanho tão limitado poderia justificar: o catálogo que publicou em 1812 não exigiu uma tiragem superior a cem exemplares.

Durante o primeiro ano teve a ideia de fabricar prelos em madeira de pau-brasil e exporta-los para Inglaterra, onde os trocaria por suprimentos de papel e outros equipamentos. Só que como pau-brasil era monopólio da Coroa a ideia esfumou-se.

Entretanto aparece o prelo de ferro, mas o seu custo era elevado, de cerca de 90 libras, pelo que em 1815 foi-lhe concedido um empréstimo (quatro contos de réis pagáveis em dez anos).

O governo também lhe prestou auxílio quando confiscou um prelo dum concorrente que fora importado em 1810, pela firma Barroso, Martins Dourado e Carvalho. O Embaixador Português em Londres havia relatado que esta aquisição fora uma iniciativa secreta do próprio Hipólito da Costa, mas é possível que esta tenha servido apenas de agente comercial, pois no jornal que fundara pomposamente intitulado “Gazeta da Bahia, Idade de Ouro”, os seus redactores, o português Diogo Soares da Silva de Bivar e o padre Inácio José Miranda, assumiram perante as autoridades uma lealdade quase servil.


Hipólito da Costa

Manuel António da Silva Serva, um homem “alto, gordo, rosto redondo trigueiro e bastante barba, num esforço para ampliar seu mercado, nomeou seu conterrâneo, Manuel Joaquim da Silva Porto, seu agente no Rio, para vender as suas publicações. Além disso, fez várias viagens à capital do Império para obter encomendas. Como os preços cobrados pela impressão Régia eram escandalosamente altos, tornava-se fácil conseguir tais encomendas. Assim, ele foi o primeiro concorrente da gráfica do Governo, visto que, antes de 1821, os concorrentes do Rio estavam proibidos de trabalhar.

Durante a sua quarta viagem para o Rio de Janeiro, Silva Serva morreu, em 3 de Agosto de 1819. Dois meses antes, tinha admitido como sócio o seu genro, José Teixeira e Carvalho, de modo que a firma continuou como “Typografia da Viúva Serva e Carvalho”. Mais tarde, em 1819, o seu único filho (também Manuel) começou a trabalhar na firma. Nesta altura a situação da firma estava boa, os dois prelos estavam tão sobrecarregados de trabalho que foram precisos dois anos para se desobrigarem das tarefas.

Com a morte de Silva Serva, Salvador perdeu muito do seu interesse como centro editorial.

A editora de Silva Serva sobreviveu até 1846, mas perdeu a sua posição de monopólio em 1823.

Durante a luta pela independência em 21 de Agosto de 1822, a junta pró-Portugal passou a governar em Salvador, e invadiu as suas instalações para interromper a impressão do jornal nacionalista, o Constitucional.

Os seus editores fugiram para Cachoeira, onde instalaram a sua própria gráfica e imprimiram sua continuação, o semanário O independente Constitucional.

No entanto, a tipografia de Serva continuou a imprimir a sua Gazeta da Bahia, pró-Portugal. Quando a causa nacionalista triunfou, a 24 de Junho de 1823, não só apenas a Gazeta da Bahia teve de interromper a sua publicação mas também a Tipografia acompanhou as forças brasileiras vitoriosas de volta à capital provincial.

Segundo o bibliófilo Renato Berbert de Castro, pelo menos 176 títulos foram publicados pela editora de Silva Serva, ao longo de sua vida. De acordo com Octavio Mangabeira, inúmeros outros periódicos, para além do Gazeta da Bahia, foram impressos na tipografia da família, que, entre 1811 e 1843 "esteve mais ou menos ligada à quase totalidade dos jornais que se publicaram na Bahia".

Pode-se afirmar que Manuel António da Silva Serva foi de Portugal, em 1797, para fazer história no Brasil. Radicou-se na Bahia, onde fundou, com a autorização real, em 1811, a primeira tipografia e editora privada do país – três anos depois da Impressa Régia, pioneira no ramo e que pertencia ao rei. Com a licença, o empresário pode publicar a primeira revista brasileira, a As Variedades; o primeiro jornal do estado – e o terceiro do país – O Gazeta da Bahia; e, pelo menos, 176 títulos de livros.

Terminadas que estão as minhas divagações resta-me agradecer a vossa leitura.

Saudações bibliófilas.



Fontes consultadas:

Cronologia

Diniz, J. Péricles – Uma breve trajetória da imprensa no Recôncavo da Bahia durante o século XIX

Domingos José Martins (um benemérito do correio parnaibano)

Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (Hipólito da Costa)

A Impressão da Leitura em Silva Serva

Jornal Actual

Memória da Justiça Brasileira - Volume 2



Notas:

(1) Domingos José Martins (1781-1817), grande comerciante e chefe imortal, liberal, republicano, líder civil da Revolução Pernambucana de 1817. Representava o Comércio na Junta da nova República. Óleo sobre tela de F T J Lobo do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano.
(4) Veja-se este video do Youtube: De Olho no Passado - Jornal Idade D'ouro do Brasil (Quadros apresentados pela historiadora Isabel Lustosa especial para o Observatório da Imprensa sobre a trajetória da imprensa no Brasil).

 
 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Abade de Faria – um apontamento a propósito de um livro



Abade Faria

Alain Marchiset apresentou, para venda, no seu blog Livres Anciens et Curieux um livro de um autor português que para alguns será um pouco desconhecido – o Abade de Faria.

Mas quem foi o Abade de Faria?

Podemos afirmar que, como cientista, demonstrou o carácter puramente natural da hipnose, tendo sido ele o primeiro a descrever com precisão os seus métodos e efeitos. Soube antever as possibilidades da sugestão hipnótica no tratamento das doenças nervosas.


Abade Faria – estátua em Panjim, capital do estado de Goa
(escultura de Ramchandra Pandurang Kamat of Madkai – 1945) 

José Custódio Faria mais conhecido por Abade Faria, filho do Caetano Valeriano Faria e Maria de Sousa, nasceu a 30 de Maio de 1756 em Candolim, concelho de Bardez, distrito de Goa antigo Estado da Índia. A família do abade, de portugueses, só possuía os nomes ocidentalizados – o pai era brâmane saraswati. Tinha ainda uma irmã adoptada, de nome Catarina. Os pais do abade mais tarde separaram-se, ambos aderindo à vida monástica.

Aos 15 anos de idade saiu de Goa acompanhado de seu pai com destino a Lisboa, onde chegou a 23 de Novembro de 1771. Passado pouco tempo seguiu para Roma, a fim de estudar no Colégio da Propaganda. Em 12 de Março de 1780 foi ordenado presbítero; doutorou-se em Filosofia e Teologia pela Universidade de Roma.


Papa Pio VI

As suas capacidades causaram boa impressão no papa de então (Giovanni Angelo Brachi - Pio VI), que o convidou para que realizasse um sermão na Capela Sistina, sermão que foi escutado por Sua Santidade em pessoa.

Regressou a Portugal, onde pela sua inteligência, saber e compostura moral chegou a conquistar grande fama de pregador.


D. Maria I. Rainha de Portugal
[Visual gráfico. - Lisboa : em caza de Fran.cº M.el Pires, [entre 1760 e 1783].
1 gravura : água-forte e buril, p&b ; 25,2x17 cm (matriz)

A rainha D.ª Maria I, “a louca” acabaria por requisitar um sermão do abade. Reza a lenda que o Abade Faria, ao ver a audiência tão ilustre “travou” a língua, não conseguia pronunciar palavra alguma. O seu pai ao aperceber-se do que se passava, engatinhou debaixo do púlpito e sussurrou em concanim (a língua local goesa) ao filho: ”são apenas vegetais…corte os vegetais!”. Depois da ajuda paterna, o medo dissipou-se e o sermão seguiu tranquilamente.

Esta experiência curiosa causou impressão fulminante no Abade Faria: como poderia uma simples frase fazê-lo perder o pânico momentâneo que o tomou?

Daqui terá surgido o seu interesse pelos estudos sobre hipnotismo, que o tornaria num dos grandes pioneiros da técnica.

Em 1787, Faria é implicado na conhecida “Revolta dos Pintos” também designada por “Conjuração dos Pintos” (o equivalente goês da “Inconfidência Mineira” brasileira), cujo objectivo era terminar com a administração portuguesa, mas que não obteve êxito, pois que foi denunciada, e duramente reprimida pelas autoridades portuguesas.

Acabaria por emigrar para Paris em 1788, e fixar residência na Rua de Ponceau. Foi um fervoroso defensor da Revolução Francesa (1789).


Déclaration des droits de l'homme et du citoyen
(10 de Agosto de 1793)

Pelo seu carácter irrequieto passa em 1795 a liderar um dos batalhões revolucionários, comandando uma das secções do tristemente célebre “10 do Vendimario”, que atacou a Convenção e em cuja queda tomou parte activa, pelo que conseguiu ter relações com altas personalidades políticas, frequentando com Chateaubriand (1), os salões de Madame la Marquise de Coustine, amigo do Marquês de Puységur (2) a quem dedicou o seu livro De la cause du sommeil lucide ou étude de la nature de l'homme.


François-René de Chateaubriand
(Pintura de Anne-Louis Girodet de Roussy-Trioson)

Em 1797 é preso por razões desconhecidas, passando um bom tempo numa solitária do temido presídio “Chateau d’If”. Lá, passa a maior parte do tempo a praticar as suas teorias de auto-sugestão. Algum tempo depois é liberto.

Em 1811 foi nomeado Professor de Filosofia da Universidade de França e eleito sócio da Societé Medicale de Marseille, ou seja membro da Academia de Medicina. Facto curioso por nunca ter sido médico.


Armand-Marie-Jacques de Chastenet,
Marquês de Puységur (1751–1825)

Em 1813 o Abade Faria, que era discípulo do Marquês de Puységur, soube que a divulgação de sonambulismo tinha crescido de importância; aproveita a oportunidade e regressa então a Paris, onde prega uma doutrina nova, que contribui para a aumentar a sua notoriedade; ganha uma aura auspiciosa, mostrando ser um rival de Mesmer (3) e dá início às suas práticas magnéticas.


Franz Anton Mesmer

Apesar de apodado de charlatão por uns, de possuir poderes divinos por outros, supondo-o as autoridades religiosas que ele está em pacto com o diabo, chega a revolucionar academias e agitar durante muitos anos outros centros científicos e as doutrinas teológicas.

Com a sua obra De la cause du sommeil lucide, ou étude de la nature de l'homme (Da Causa do Sono Lúcido no Estudo da Natureza do Homem), publicada em Paris em 1819, provoca intermináveis polémicas.

Mas o certo é que, rapidamente a fama do criador do hipnotismo vai crescendo, tornando-se na cidade de Paris, o alvo de atenção de todos. Foi ele o primeiro no mundo científico que defendeu a verdadeira doutrina sobre a interpretação dos fenómenos sonâmbulos, chegando a hipnotizar quase cinco mil pessoas. Escritores famosos de França, Bélgica, Portugal e Alemanha reconheceram o Abade Faria como o “Pai da Escola de Nancy”.

Porém, torna-se desgostoso ao ver que visões opostas à sua teoria de hipnose prevalecem. Acusado de charlatanismo, resolve enfim recolher-se a uma ordem monástica obscura,

Pobre e abandonado, quando ainda se encontrava em impressão o primeiro volume da sua célebre obra, faleceu duma apoplexia fulminante em Paris no dia 20 de Setembro de 1819.


Hippolyte Bernheim

O Professor Bernheim (4), um dos estudiosos consagrados à causa do hipnotismo, referindo-se ao Abade Faria dizia: “A Faria pertence o incontestável mérito de ter estabelecido em primeiro lugar a doutrina e o método do hipnotismo pela sugestão e de tê-lo nitidamente libertado das doutrinas singulares e inúteis que ocultavam a verdade. É na realidade, quem deu, antes de todos a concepção nítida e verdadeira dos fenómenos de hipnotismo”.

O Abade Faria foi muito popularizado e imortalizado pelo grande escritor francês Alexandre Dumas no seu conhecido romance O Conde de Monte Cristo, de aqui fica uma das suas edições mais antigas:


DUMAS, Alexandre. Le Comte de Monte-Cristo . . . Publie par le Siecle. Paris: Bureaux du Journal Le Siecle, [1845]-1846. Large quarto (301 x 213 mm). [4], 408 pp.
©Heritage Book Shop, ABAA

Existe também um importante estudo sobre a vida de Abade Faria intitulado Padre Faria na História do Hipnotismo, 1925 da autoria do eminente Professor Dr. Egas Moniz (prémio Nobel de Medicina juntamente com Walter Hess, em 1949).

Mais recentemente leia-se:


RODRIGUES, Santana. O ABADE FARIA. A vida e obra do misterioso personagem do romance "O Conde de Monte Cristo". Empresa Contemporânea de Edições. Lisboa. 1946. In-8.º de 167 pp.
©O Homem dos Livros - Porto

Já tracei um esboço biográfico de quem foi o Abade Faria, resta agora ver o livro em causa, apresentado por Alain Marchiset::




FARIA (Abbé J.C. de). De la cause du sommeil lucide, ou étude de la nature de l'homme. Vol. 1 (seul paru) Paris, chez Mme Horiac, 1819, in 8°, de 2ff. 463 pp., cart. papier marbré époque, p. de titre rouge, rousseurs et qq. annotations en marge. Exemplaire avec relié in fine une copie manuscrite de l'époque de l'article de Virey "Analyse de l'ouvrage de l'abbé Faria intitulé : De la cause du sommeil lucide" paru dans le journal complém. du Dictionnaire des sciences médicales, 1820, T.6 p.169 (23pp. d'une fine écriture penchée) (ex-libris Etienne Cluzel)



Rarissime et mythique édition originale. C'est à l'abbé Faria (1756-1819), qu'appartient incontestablement le mérite d'avoir le premier établi la doctrine moderne et la méthode de l'hypnose par suggestion. Il est en particulier le premier à nier l'existence du fluide magnétique ; à attribuer les phénomènes de somnambulisme à l'impressionnabilité psychique du sujet hypnotisé ; à découvrir le procédé suggestif ou psychique pour provoquer le somnambulisme ; à proposer une théorie psychologique pour expliquer les phénomènes du somnambulisme. Faria influencera surtout le Dr. Alexandre Bertrand et le Gal François Joseph Noizet, ainsi qu'Ambroise-Auguste Liébeault, le chef de file de l'École de Nancy. Il est singulier que dans l'esprit du grand public son nom soit surtout resté attaché au personnage du roman d'Alexandre Dumas "Le Comte de Monte Cristo". ¶ Caillet n°3815 - Crabtree no. 294:" This book by the Abbé Faria is one of the most important in the history of animal magnetism. Faria anticipated the views of Alexandre Bertrand by some years, contending that the true cause of the phenomena of animal magnetism was psychological. He believed that, contrary to Mesmer's teaching, there is no magnetic fluid, and that, contrary to Puységur's teaching, the power of the will of the magnetizer is not involved. In other words, Faria states that there is no extrenal agent that produces the efefects. Rather , the magnetizer makes use of ' suggestion' to produce a state of "lucid sleep", as Faria calls artifical somnambulsim. He says that the extraordinary powers of lucid sleep are always present in human beings, but normally unavailable. Because the sleeper does not recognize them as natural abilities, they are attributted to an external agent. Faria also states that the healing powers of ' lucid sleep' are due to the very powerful effects of suggestions coming from the operator. " - not in the Norman Mesmer col. (only the reprint edit. of 1906) - Pas dans Dorbon - Ellenberger découverte de l'inconscient p.66-67. (5)

Espero que o tema tenha despertado a vossa curiosidade.

Saudações bibliófilas.


Notas:

(5) Para os mais interessados, ou simplesmente curiosos, podem aceder a uma cópia pdf em: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k83286f


quarta-feira, 13 de junho de 2012

José F. Vicente Leilões – Importante Leilão de Livros, Manuscritos, Fotografia, Gravura, Desenho e Pintura






José F. Vicente vai realizar mais um leilão nos dias 18 e 19 Junho de 2012, no Palácio da Independência, 11 (ao Rossio), em Lisboa, englobando as seguintes temáticas:

História, Arte, Monografias, Bibliografia, Poesia e Literatura, Revistas, Livros dos Séculos XVI a XIX, Medicina, Tauromaquia, Biografias, Genealogia e Heráldica.

Desta vez vou dar a palava ao livreiro-antiquário para nos indicar as obras, que na sua opinião, são os melhores lotes deste leilão.

Depois poderemos confrontar com os resultados se as suas expectativas estavam correctas. (Claro que a sua selecção de lotes corresponde a peças de inegável raridade, mas um leilão é sempre uma “caixa de surpresas” e, por vezes, peças de previsível menor interesse podem ultrapasar aquelas que à partida serão as melhores escolhas – basta haver dois ou três grandes interessados/”teimosos” para os preços dispararem!)

Assim nos Livros dos Sécs. XVI a XVIII destaca:

Lote 054 - Arte Nova e Curiosa para Conserveiros e Confeiteiros. 1788;
Lote 160 - João Rodrigues Castelo Branco [Amato Lusitano] - Curationum Medicalium Centuriae Quator. 1556;
Lote 232 - A. C. Daviler - Cours d'Architectura. 1699-1700;
Lote 437 - Damião de Goes - Fides, Relegio. Primeira edição.1540;
Lote 461 - GUATTINI E CARLI - Viaggio Nel Regno del Congo. 1679.
Lotes 518 e 519 - Joseph-Franços Lafitou - Histoire des Decouvertes e Conquetes des Portugais. 1 ª edição de 1733 e 2ª edição. 1734;
Lote 613 - Petri Andreae Matthioli - Apologia Adversus Amathum Lusitanum. 2ª edição. 1558.
Lotes 631 e 632 - Francisco de Sá de Miranda - Obras. 2ª edição de 1614 e a 5ª de 1677;
Lote 751 - Álvaro Pelagio [Álvaro Pais] - De Planctu Ecclesiae. 1517.
Lote 872 - Miguel Cervantes de Saavedra - La Discreta Galatea. Lisboa. 1618.



054 ARTE NOVA, E CURIOSA, // PARA //CONSERVEIROS, // CONFEITEIROS, // E COPEIROS, // E MAIS PESSOAS QUE SE // OCCUPÃO EM FAZER DOCES E CONSER- // VAS COM FRUTAS DE VÁRIAS QUALIDA- // DES, E OUTRAS MUITAS RECEITAS // PARTICULARES, QUE PERTENCEM // À MESMA ARTE. // 1788. LISBOA: // NA OFFIC. DE JOSÉ DE AQUINO BULHOENS. // ANNO DE 1788. In-8º peq. de 203, [1] págs. Enc.

Primeira e única edição.



160 CASTELO BRANCO, João Rodrigues de. - AMATI LVSITANI,  MEDICI PHYSICI PRAESTAN= tissimi, Curationum medicalium Centuriae quator, quarum duoe priores ab auctore sunt recognite, due posteriores nunc primum edite, uaria omnes  multiplicique rerum cognitione refertae: Quibus praemissa est Commenta-  tio De introitu medici ad aegrotantem deque crisi & diebus decre  toriis, medicae rei studiosis utilíssima.  Accessit his Index rerum memorabilium copiosissimus.  [Marca de Hieronimus Froben]. BASILEAE, ANNO M. D. LVI. In-Fólio de [16], 406, [34] Fólios. Enc.



232 DAVILER, A. C. - COURS // D’ARCHITECTURE // QUI COMPREND LES ORDRES // DE VIGNOLE, // AVEC LES COMMENTAIRES, LES FIGURES & DESCRIPTIONS DE SES PLUS // BEAUX BÂTIMENS, & DE CEUX DE MICHEL-ANGE// ... // Junto com: DICTIONNAIRE // D’ARCHITECTURE, // ... // TOME SECOND) // PARIS. // Chez Gedorge Gallett. 1700 (e Chez Nicolas Langlois, // M.DC.XCIX. 2 Vols. In-8º Encs. em 1.



437 GÓIS, Damião de. - FIDES, RELI- // GIO, MORES QVE AETHIOPVM SVB // Imperio Pretiosi Ioannis (quem vulgo Presby- // terum Ioannem vocant // ... // degentium, una cum // enarratione confoederationes ac amicitiae // inter ipsos Aethiopium Imperato- // res & Reges Lusitaniae initae. // LOVANII // Ex officina Rugeri Rescius // M.D. XL (1540). In 8º de 52 Fls inums. Enc.

Primeira edição. Extremamente rara.



461 GUATTINI E PADRE DIONIGI DE CARLI, Michael Angelo de. - VIAGGIO // NEL REGNO DEL CONGO, // DEL PADRE // MICHAEL ANGELO // DE GIATTINI DA REGGIO, // et del Padre DIONIGI de Carli // da Piacenza // CAPVCCINI, // Predicatori, & Missionarij Apostoloci nel // Regno del Con-//go. Descritt per letttere continuate fino all a // morte, del Porto di Genoua all a Città // di Loanda dal sudetto P. Guattini // al suo dilettiss. Padre Reggio. // Con vna fedele narratiua delli Paesi del // Congo del detto P. Dionigi, & col // suo ritorno in Italia. // ... // IN VENETIA, Presso Iseppo Prodocimo. // M.DC. LXXIX. In-8º peq. de [24], 274 págs. Enc.

Obra de Extrema Raridade. A primeira edição publicou-se em 1671. Relatos da estada em Lisboa e partida para o Congo, com passagem por Luanda. Revestido de magnígfica encadernação do século XIX, inteira de chagrin, com artísticos ferros a ouro na lombada, pastas e seixas, assinada por um encadernador inglês.



631 MIRANDA, Francisco de Sá de. - AS // OBRAS // DO DOCTOR // FRANCISCO DE SAA // de Miranda. // Agora de nouo impressas com a Rela- // ção de sua calidade, & vida. // (Vinheta decorativa) // [Lisboa] // Por Vicente Aluarez. Anno de 1614. In-8º de [12], 160 Fls. Enc.

Segunda edição desta obra clássica. Raríssima. Pertenceu ao Rei D. Carlos I, cujo carimbo a óleo ostenta no frontispício. Exemplar em magnífico estado de conservação, possuindo apenas algumas manchas de humidade em algumas folhas e pequenos restauros nas 3 últimas folhas. Encadernação moderna inteira de chagrin com ferros a ouro na lombada e pastas. Ávila Perez, 6830; Samodães, 2933; O Valor do Livro Antigo e Portugal, págs. 351 e 693; P. Martins – Sá de Miranda, 20; Inocêncio, Tomo III, pág. 54.

Nas Revistas Literárias a sua escolha recai em:

Lote 059 - Athena. 1924-1925;
Lote 157 - Cassiopeia. 1955;
Lote 979 Unicórnio, Bicórnio, Tricórnio, Tetracórnio, Pentacórnio. 1951-1956.



059 ATHENA. Revista de Arte. Directores: Fernando Pessoa. Ruy Vaz. Vol. I (ao Vol. V). Lisboa. 1924 (a 1925). 5 Nos. In-4º Encs. em 1. Colecção completa. Edição original desta importante revista, colaborada por Fernando Pessoa, Almada Negreiros, António Botto, Mário Saa, etc. Ilustrações de Almada Negreiros, Mily Possoz, Lino António, etc.

Exemplares com magnífico estado de conservação. Encadernação meia de pele. Capas da brochura de todos os números preservadas. Só ligeiramente aparado á cabeça.



157 CASSIOPEIA. Antologia de Poesia e Ensaio. Orientação e edição de António Carlos, António Ramos Rosa, João Rui de Sousa, José Bento e José Terra. 1º Fascículo. Lisboa. Março de 1955. In-4º de 48 págs. Br.

É tudo quanto se publicou. Colaboração de José Augusto França, Eugénio de Andrade, José Terra e muitos outros. Ilustrado com um desenho de Cipriano Dourado. Os 2 poemas de João Rui de Sousa contêm a sua assinatura.



979 UNICÓRNIO, BICÓRNIO, TRICÓRNIO, TETRACÓRNIO, PENTACÓRNIO. Antologia de Inéditos de autores portugueses contemporâneos, organizada por José-Augusto França. Lisboa. Imprensa Libânio da Silva, 1951 (a 1956). 5 Números in 4º. Encs. em 2.

Colecção completa desta importante revista modernista. Encerra colaboração literária e artística de Casais Monteiro, António Pedro, Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena, Alexandre O’Neill, Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Thomaz Kim, Vespeira, Fernando Lemos, Pascoaes, Santa Rita Pintor, etc. Revestidos de belas encadernações inteiras de chagrin, comferros a ouro nas lombadas, pastas e seixas. Por aparar.

Na Literatura e Poesia destaca:



Lote 764 – Mensagem de Fernando Pessoa. 1ª edição. 1934.
Lote 990 - Livro de Cesário Verde. 1ª edição. 1887.
Obras importantes de António Botto, Sophia de Mello Breyner Andersen, Agustina Bessa Luis, Ana Haytherly, Herberto Helder, Gomes Leal, Pedro Homem de Mello, Almada Negreiros, Fernando Namora, Vitorno Nemésio, Luiz Pacheco, J. Cardoso Pires, Mário Cesariny, etc.



106 BOTTO, António. - CANTARES. Versos de... Mvsicas de Nicolau d’Albuaquerque Ferreira: Illvstrações do pintor António Carneiro. Lisboa. Typographia do Annvario Commercial de Lisboa.1928. In-Fólio. Cart.

Primeira edição. Cartonagem original. Bom exemplar.



092 BESSA-LUIS, Agustina. - A SIBILA. Romance. Lisboa. Guimarães Editores. 1954. In-8º de 285, [1] págs. Br.

Edição primitiva. Obra galardoada com o Prémio Delfim Guimarães. Bom exemplar.



471 HATERLY, Ana. - AS APARÊNCIAS. Lisboa. Sociedade de Expansão Cultural. In-4º de 63, [4] págs. Br.

1ªedição. Capa com alguns vestígios de acidez. Raro.



674 NEGREIROS, José de Almada. - A ENGOMADEIRA. Novela Vulgar Lisboeta. Lisboa. (1917) Tipografia Monteiro & Cardoso. In-8º de 30 págs. Br.

Primeira edição. Das obras mais raras do autor. Falta de pequeno pedaço de papel junto ao pé da capa de brochura e restauro na 2ª folha do texto, com as duas ultimas linhas repostas á mão.



785 PIRES, José Cardoso. - HISTÓRIAS DE AMOR. Quatro contos e uma novela. Lisboa. 1952. In-8º de 170, [1] págs. Enc.

Edição primitiva e segundo livro do autor. Incluída na colecção Os Livros das Três Abelhas. Raríssima. Encadernação meia de pele. Com capas.



Na Pintura-desenho-serigrafia-litografia-caricatura refere com maior relevo:

Importante conjunto de trabalhos de José Escada, Rainha D. Amélia, Bernardo Marques, Sá Nogueira, Cruzeiro Seixas, Espiga Pinto, Relógio, Francisco Valença, Pomar, etc.

Bom aqui fica o convite para a consulta deste catálogo.

Ainda que encontrem muitas obras já nossas conhecidas, este encerra algumas “pérolas” para os mais conhecedores … vejam se as descobrem?

Saudações bibliófilas.